quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Sariemas resistem aos desmatamentos sertanejos

Texto e foto Marcos Cirano

No sertão pernambucano, os agricultores que ainda não desmataram de todo suas propriedades vêm-se deparando com uma cena cada vez mais rara: pequenos grupos de Siriemas (ou Sariemas) caminhando lentamente à cata de comida.

É exatamente o que está ocorrendo em Timbaúba, localidade da zona rural de São José do Egito, Sertão do Pajeú, a 12 quilômetros do centro da cidade, onde a maioria dos moradores trata a ave como se fosse um bicho sagrado.

Mas isso não significa dizer que em todo o sertão a postura dos agricultores é sempre a mesma. Em algumas áreas as Siriemas são encaradas com total desprezo, fato que preocupa alguns estudiosos e órgãos como o Ibama.



Símbolo da resistência da caatinga, a Siriema ou Sariema (cariama cristata) ainda não está seriamente ameaçada de extinção, mas é uma ave cuja situação de sobrevivência é classificada pelos técnicos como “vulnerável”. Ou seja, ela corre, sim, risco de desaparecer das matas do sertão nordestino desde que nada seja feito em prol de sua preservação.

O biólogo Roberto Siqueira, do Refúgio Ecológico Charles Darwin, lembra, por exemplo, que não existe um só estudo científico definindo o status de conservação da Siriema no Nordeste brasileiro. Ele rejeita o termo “ameaça de extinção”, mas concorda que há uma visível queda populacional da espécie em terras nordestinas.

“Há poucas décadas, era comum a gente encontrar Siriemas correndo em qualquer beira-de-estrada. Hoje, podemos dizer que há um preocupante declínio populacional da espécie não só em Pernambuco como também em outros Estados do Nordeste”, afirma o biólogo para quem só uma campanha em defesa da preservação da Siriema evitará o pior.

Roberto Siqueira lamenta o fato de no Brasil não ter áreas demarcadas para proteção específica da Siriema e acredita que a espécie só não desapareceu ainda por conta de sua rusticidade e também do seu hábito alimentar. “Como entre seus alimentos estão as cobras peçonhentas, os próprios agricultores têm interesse de manter a ave por perto”, afirma.



CARACTERÍSTICAS E HÁBITOS

Representante da família CARIAMIDAE , a Siriema é uma vistosa ave dos cerrados e caatinga do Brasil. De porte imponente, possui longas penas avermelhadas na cabeça. A plumagem é cinzenta com ligeira tonalidade parda ou amarelada. Na base do bico vermelho, cresce um feixe de penas eriçadas para diante.

Alimenta-se de roedores, lagartos, gafanhotos e outros animais pequenos, inclusive cobras peçonhentas. É muito útil no controle natural destes animais. Anda aos casais ou em pequenos bandos. Elas voam mal, mas são boas corredoras. Se perseguida por um automóvel em estrada de terra, corre a uma velocidade que chega atingir de 40 a 70 km/h antes de levantar um vôo curto e baixo. Por isso, quando adultas, são de difícil captura.

Durante o dia repousa sobre os tarsos (suas longas pernas), no chão. Sobe em árvores, dando pulos ajudada por um bater de asas. Constrói o ninho com gravetos, galhos e folhas secas, em árvores de 3 a 5 metros do chão, coloca de 2 a 4 ovos brancos, ligeiramente rosados, pintados de castanho.

As seriemas gritam muito quando o tempo está mudando para chover. É interessante vê-las emitir seus altos e estridentes gritos, que a cabeça e o pescoço acompanham numa perfeita sincronização, para baixo e para cima. Se for apanhada bem pequena a seriema transforma-se facilmente num animal doméstico.

Os fazendeiros costumavam criá-la em suas propriedades, pois, além do controle de pragas, ela come pequenas cobras e dá um sinal de aviso à chegada de qualquer intruso. Hoje a seriema é protegida pelo IBAMA e é proibida sua criação em cativeiro.


FICHA DO BICHO

Nomes comuns: Siriema, Seriema, Sariema
Nome científico: Cariama cristata
Nome em inglês: Red-legged Seriema
Classe: aves
Ordem: Gruiformes
Família: Cariamidae
Comprimento: 70 cm
Ovos: Dois ovos por ano
Período de incubação: 25 dias
Distribuição geográfica: Brasil, Argentina, Bolívia, Uruguai e Paraguai.

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