Juventude
Filho de Daniel Eduardo de Figueiredo e Feliciana Cirne, Pedro Américo era irmão do também pintor Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo. Nasceu em uma família ligada às artes na cidade de Areia no estado da Paraíba, ainda que de escassos recursos, e desde cedo encontrou em sua casa o estímulo necessário ao desenvolvimento de seu talento precoce, incluindo na música, ensinada pelo seu pai Daniel, que era violinista, e que o introduziu também no desenho apresentando-lhe livros sobre artistas célebres.
Logo a fama do pequeno prodígio se espalhou pela cidade, e quando ali chegou em 1852 uma expedição científica liderada pelo naturalista Louis Jacques Brunet, este foi visitá-lo e pôde apreciar uma série de cópias de obras clássicas realizadas pelo menino, o que foi causa de pasmo no viajante. Querendo testá-lo para comprovar a habilidade que se apregoava, arranjou uns objetos e fez Pedro Américo desenhá-los em sua presença, e ele os reproduziu com grande semelhança. Impressionado, Brunet decidiu levá-lo consigo como desenhista em sua expedição. Entusiasmado, o jovem artista acompanhou o sábio francês por uma viagem de vinte meses cruzando boa parte do Nordeste brasileiro.Em 1854, com 11 anos, foi mandado para o Rio de Janeiro, para estudar no Colégio Pedro II, destacando-se entre os colegas por sua aplicação e inteligência. Ingressando na Academia Imperial de Belas Artes, seu progresso foi igualmente brilhante, conquistando 15 medalhas e prêmios, e mesmo antes de terminar o curso obteve uma pensão do Imperador Dom Pedro II para ir aperfeiçoar-se na Europa.
Lá demorou-se de 1859 a 1864, cursando a École des Beaux-Arts de Paris, o Instituto de Física de Ganot e a Sorbonne, sendo discípulo de Ingres, um dos maiores nomes do neoclassicismo francês, e também de Coignet, Hippolyte Flandrin e Horace Vernet. Durante sua estadia européia visitou outras capitais a fim de ampliar seus horizontes culturais.
Primeiros sucessos
Voltando para seu país, passou antes por Portugal, onde em fins de 1869 casou com Carlota de Araújo Porto-alegre (1844 - 1918), filha de Manuel de Araújo Porto-alegre, então cônsul brasileiro em Lisboa, e com ela teve mais tarde três filhos. Chegou ao Rio no início do ano seguinte e passou a dedicar-se ao magistério na Academia e à pintura, iniciando um período fértil em grandes realizações, com as telas Batalha do Campo Grande, Ataque da Ilha do Carvalho, o Passo da Pátria e diversos retratos, incluindo dos imperadores Pedro I e Pedro II e do Duque de Caxias.
Consagração
Também neste período começou os esboços para uma que seria das suas maiores obras-primas, a enorme Batalha de Avaí, que só viria a ser concluída em 1877 e que é uma das peças capitais do nacionalismo romântico e do academismo no Brasil. Quando exposta pela primeira vez em Florença, ainda incompleta, a composição causou sensação entre os conhecedores de arte que estavam reunidos em grande número na cidade para as comemorações do centenário de Michelangelo. A obra, e um discurso que proferiu em duas línguas diante da estátua de David do mestre da Renascença, espalharam sua fama por toda a Europa, sendo celebrado em uma multidão de artigos e notícias como um dos maiores pintores de seu tempo. O governo italiano, ecoando os louvores generalizados, solicitou ao artista um retrato para que figurasse junto dos luminares da arte de todos os tempos na galeria de retratos dos Uffizi, sendo exposto entre os de Ingres e Flandrin, seus próprios mestres.
Ainda em Florença realizou muitas outras pinturas, das quais se destacam A Batalha de San Martino, A noite acompanhada dos gênios do amor e do estudo, Joana D'Arc e O voto de Heloísa. Entre 1885 e 1893 deslocou-se diversas vezes entre Europa e Brasil, terminando a Batalha de Avaí e outra obra de grande vulto, a Proclamação da Independência, e peças menores. Neste ínterim foi eleito em 1890 deputado junto ao Congresso Constituinte por Pernambuco.
Conseguiu manter seu prestígio junto ao governo quando proclamou-se a República, mudança que levou ao ostracismo o outro grande mestre acadêmico de sua geração, Victor Meirelles, e para o novo regime produziu obras emblemáticas como o Tiradentes esquartejado, além de Honra e Pátria e Paz e Concórdia, seu último trabalho.
Falecendo em Florença, vítima da beribéri que o afligia desde a infância, praticamente cego e empobrecido com a crise financeira nacional causada pelo Encilhamento, seu corpo foi transladado para o Rio de Janeiro, e depois de exposto durante vários dias no Arsenal de Guerra, foi provisoriamente sepultado em janeiro de 1906, no Cemitério São João Batista, depois enterrado definitivamente em sua cidade natal, Areia, onde foi erguido um monumento. A casa onde nasceu hoje é um museu dedicado á sua memória, a Casa Museu Pedro Américo.
Distinções
Pedro Américo em vida recebeu as honrarias de Cavaleiro da Coroa da Alemanha e de Grão Cavaleiro da Ordem Romana do Santo Sepulcro.
Academia Paraibana de Letras
Além de pintor insigne, foi historiador, filósofo e escritor, deixando cerca de 15 trabalhos literários de História, Filosofia Natural e Belas Artes, e poesias e romances. Em 1871 apareceu sua primeira biografia, tendo o artista menos de 30 anos de idade, que o colocava na posição de fundador da escola de pintura nacional, peça de propaganda que foi distribuída por todo o Brasil e também editada no exterior, e que é a fonte primária das biografias que surgiram depois.
Pedro Américo inseriu-se na tradição acadêmica de índole neoclássica que foi estabelecida pela Academia Imperial, que privilegiava temas históricos e personificações alegóricas em abordagens idealistas, mas quando sua carreira realmente tomou alento o estilo geral já havia evoluído para o Romantismo, tendência que ele rapidamente pôde acompanhar e onde deixou sua melhor produção.
Na Europa, o Romantismo foi uma corrente que encontrou força nas antigas mitologias nacionais para prosperar, e olhou para o passado com olhos de nostalgia das suas glórias pregressas. Mas a jovem monarquia brasileira nada encontrou no passado local que se comparasse à milenar herança cultural européia. No remoto passado brasileiro só havia selvagens, e os monumentos de arte e arquitetura significativos eram todos barrocos, um estilo considerado há muito fora de moda e por demais ligado a Portugal e à religião para satisfazer as elites e a burguesia ascendente, que desejavam afastar a memória dos tempos de colônia dominada pela Igreja e explorada pela Metrópole distante, e agora tinham a França como modelo. Era um país novo, pobre, que somente há poucos anos conquistara sua independência, e para construir as bases de identidade e união desse projeto de nação, foi necessário o resgate de elementos locais que antes havia rejeitado, como o índio, agora idealizado e retratado cheio de uma nobreza, pureza e beleza inatas. Através dele, e da representação de personagens da família imperial como símbolos vivos da soberania nacional, e das batalhas que asseguraram a posse do território e afirmaram o Brasil como potência militar na América do Sul, além de ilustrarem o heroísmo nativo, encontraram-se os elementos emocionais e conceituais adequados para a construção de uma iconografia nacionalista que pudesse legitimar este país recente diante das potências internacionais e que ainda carecia de uma simbologia própria.
Nessa busca, obras como A Batalha de Avaí e O grito do Ipiranga, que ocasionaram um debate público sobre estética e nacionalismo de enorme repercussão, contribuíram para fomentar o patriotismo entre os brasileiros, e se alinhavam perfeitamente com a ideologia da época, da qual foi sem dúvida um dos grandes intérpretes e o que lhe assegurou um sucesso contínuo entre as elites patrocinadoras, mesmo que na temática suas preferências pessoais caminhassem em outra direção. Apesar de ser mais conhecido por suas obras históricas profanas, era, segundo ele mesmo, a história sagrada o que mais lhe atraía:
Mesmo contando com o aplauso geral, sua obra não passou imune ao crivo de críticos como Gonzaga Duque e Ângelo Agostini, que o consideravam um oportunista antiquado, embora suas críticas sejam hoje consideradas parciais e bitoladas por sua óbvia preferência a temas burgueses, tidos como mais modernos.[
Em vários aspectos Pedro Américo foi de fato um inovador, como sugeria seu primeiro biógrafo, pois manifestava-se favorável ao uso da fotografia como auxiliar na confecção das obras pictóricas e como divulgadora da produção dos artistas; tinha as obras premiadas nos salões europeus como reflexos imperfeitos da civilização e freqüentou lá os famosos Salões dos Recusados, assimilando algumas influências progressistas, visíveis por exemplo na obra A carioca, que foi oferecida ao Imperador mas foi recusada por ser considerada licenciosa, causando escândalo quando foi exposta ao público em 1865. Também inovou ao proferir a partir de 1870 uma série de palestras públicas sobre História da Arte e Estética, e participou da edição de um jornal satírico intitulado A Comédia Social.
Seu nacionalismo encontrou expressão na constante promoção de um projeto de arte nacional, sendo mesmo um defensor da mudança da capital do Rio para o centro do país, embora outros digam que ele pouco interesse real tinha pelo Brasil e que suas longas estadas na Europa eram uma fuga. Seja como for, muitas de suas obras entraram para o imaginário coletivo brasileiro, tendo sido reproduzidas em inúmeros livros de História usados nas escolas e universidades.
Quadros mais conhecidos
- A Batalha do Avaí
- A Batalha do Campo Grande
- A Fala do Trono
- Independência ou Morte
- Paz e Concórdia
- Tiradentes esquartejado
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