sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Ganhadores do Prêmio Solano Trindade

Cultura



Jaboatão encerra com
emoração da Festa de Iemanjá

No evento, houve também o 1º Festival Jaboatanense de Literatura Afro-brasileira

Ao som das batidas do maracatu Aurora Africana e Tumaraca e do grupo de coco do Mestre Goitá Jaboatão encerrou, neste último domingo (13/12), as comemorações da Festa de Iemanjá. A mãe de santo, Maria de Lurdes, do terreiro Santo Aleixo foi a homenageada da festa, coroada com um standard simbólico confeccionado pelo artista plástico Fernando Keller. A abertura da festividade aconteceu na sexta-feira (11/12), na beira mar de Barra de Jangada.

O encontro teve a participação dos terreiros do município e abrigou o 1º Festival Jaboatanense de Literatura Afro-brasileira, Prêmio Solano Trindade, que reuniu 23 autores de todo o Estado. O concurso tem como critério temas que façam alusão à cultura e ao povo negro.

“Mãe África de meus sonhos tua fome me mata, tua seca me fere, teu sol me arde a pele, tua dor é minha e de todos nós, pois somos um pouquinho de ti.Tua mão escrava, sofrida chegou com teu sorriso escondido nas frestas da ferida do chicote. E hoje fez quem sou fez a identidade de minha terra”. Essa é a primeira parte do poema Clamor que fala sobre a África e os descendentes brasileiros. Natural de recife, a autora da poesia, Marina Presbítero, 22, foi a vencedora da primeira edição do concurso. “A Prefeitura de Jaboatão está de parabéns pela iniciativa maravilhosa”, disse.

O segundo lugar ficou para o poeta-repentista, Júnior Vieira, também da cidade do Recife com o poema: Se for reencarnar eu quero ser um Solano Trindade do Brasil. A principal mensagem da poesia é sobre o preconceito junto à luta do escritor Solano Trindade em prol do povo negro. De acordo com Vieira, o concurso “planta uma semente muito construtiva para os artistas de Pernambuco”.

Com o título Negro Xangó, o poema que ganhou o terceiro lugar foi de autoria do escritor jaboatanense do bairro do Curado IV, Valque Santos e expressa a dificuldade dos negros na época das senzalas e o conforto clamado aos santos naquele momento. Para Santos, a criação do festival reflete a importância dada à cultura de Jaboatão pela Prefeitura, porque abre espaço também para novos artistas locais. “Como artista, através dessas mudanças, hoje eu reencontrei meu amor pela cidade”, contou.

O vencedor recebeu um valor de R$ 1.500; o 2º colocado R$ 1.000; e o 3º lugar, R$ 500. Os três primeiros colocados, ainda, ganharam uma placa alusiva ao evento. O prêmio é uma homenagem aos 101 anos de morte de Solano Trindade, escritor negro destaque na literatura brasileira. O presidente do Conselho de Cultura Municipal, Cobra Cordelista, ressalta que a intenção é transformar o concurso em uma competição estadual. “Esperamos que nos próximos anos, outras cidades possam também participar”, destacou.


Confira o poema vencedor:

CLAMOR!

Mãe África de meus sonhostua fome me matatua seca me fereteu sol me arde a peletua dor é minhae de todos nós pois somos um pouquinho de ti.Tua mão escrava, sofridachegou com teu sorriso
escondido nas frestas da ferida do chicoteE hoje fez quem soufez a identidade de minha terra Não se deixe morrer, Óh mãe
Não se vá! Tua cultura me é vida,e tua existência
é também minhaA música no alto morrocanta tua luz
nos dá tua bençãoOuço teu coração acelerarNas ruas de meu Recife
- Batuque de alfaia
Chocalha o abê.
Não se vá, Óh mãe
Não se vá! Não deixe que te enterremEm caixão capitalistaEm cemitério “desenvolvido”.Não esqueces
que alimentas teu parasita
Não esqueces que alimentas quem te U.S.A. com tua lama preta com teus descendentes...

Não se deixe levar, Óh mãe
Não se vá! Viva, pois vivo!Vivo, porque vives!Caminha com tua riquezaNão deixe teus filhosNão deixe tuas tradições. Oxalá mãe, tu vives!Bato palmas, a capoeira ginga o som de Angola.Afoxé desfila em teu nome.
Axé!Vem lutar teu povoAtravés de tua música enraizada em nosso peito.O samba gritamostra tua vida em nósacelera teu sangue em nósbrilha tua cor em nós.
Não se deixe morrer, Óh mãe
Não se vá!

-- Marina Presbitero


Confira o poema do segundo lugar:

“UM SOLANO TRINDADE DO BRASIL”
Autor: Junior Vieira


PRECONCEITO SÓ GERA VIOLÊNCIA
E O RACISMO É COISA ABOMINÁVEL,
É O GÁS MAIS VOLÁTIL E INFLAMÁVEL
QUE SUFOCA O CRISTÃO SEM TER CLEMÊNCIA;
É PRECISO TER MUITA PACIÊNCIA
QUANDO A GENTE É TACHADO DE IMBECIL,
SE A JUSTIÇA NÃO FOGE NEM UM TIL
EU ESPERO “ESSA COISA” PERECER...
SE FOR REENCARNAR EU QUERO SER
UM “SOLANO TRINDADE” DO BRASIL!!!

AH! SE HOUVESSE AMOR NO CORAÇÃO
E O DISCURSO NÃO FOSSE SÓ BALELA,
ACABAVA DE VEZ TODA A SEQUELA;
NÃO HAVIA MAIS DISCRIMINAÇÃO,
NEGRO TINHA MAIS VEZ NESTA NAÇÃO
E NÃO TRATADO QUAL BICRO DE CANIL;
NÃO CARECE JUSTIÇA NEM FUZIL
PRO DIREITO DA GENTE APARECER...
SE FOR REENCARNAR EU QUERO SER
UM “SOLANO TRINDADE” DO BRASIL!!!

MAS NÃO É SÓ O NEGRO, DIGO EU,
QUE ESBARRA NA LEI DO PRECONCEITO,
MUITA GENTE TAMBÉM NÃO TEM DIREITO
QUE DIFERE DO RICO PRO PLEBEU,
PORÉM A ESPERANÇA NÃO MORREU
E EU NÃO QUERO MORRER SEM DAR UM PIU;
CARTA MÁGNA PRA MIM NÃO EXISTIU,
MEU AVÔ FOI ESCRAVO DO PODER...
SE FOR REENCARNAR EU QUERO SER
UM “SOLANO TRINDADE” DO BRASIL!!!

DESTA FEITA ESTIPULO A MINHA COTA
E EU QUERO IGUALDADE NA ESCOLA,
JÁ FAZ TEMPO Q”EU VIVO DE ESMOLA,
EU NÃO VOU MAIS PASSAR POR IDIOTA;
QUEM CONFIA EM DEUS NÃO TEM DERROTA,
INDA TEM MUITA ÁGUA EM MEU CANTIL,
SEI QUE O CAMPO É MINADO E MUITO HOSTIL;
MAS A LUTA EU SÓ PARO DE MORRER...
SE FOR REENCARNAR EU QUERO SER
UM “SOLANO TRINDADE” DO BRASIL!!!

GENTE A MATÉRIA COMPLETA ESTA NO SITE DA PREFEITURA DE JABOATÃO.

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