quinta-feira, 14 de abril de 2011

O MARCIANO QUE INVADIU A PARAÍBA PRA ROUBAR A RAPADURA



Tava eu fumando quieto
Na sombra do juazeiro
Quando vi aquela coisa
Descer do céu bem ligeiro
Parecia um dragão
Cuspindo fogo no chão
Fez aquele reboliço
Dei um pulo tão danado
Pensei: “É malassombrado
Valei-me meu Padrim Ciço”.

Era uma coisa redonda
Brilhava que nem catarro
Pela minha experiência
Nem era avião, nem carro
Quando a porta se abriu
De lá de dentro saiu
Um bicho todo asqueroso
Magro, feio e zoiúdo
Cabeça grande, orelhudo
Com rabo, feito o tinhoso.

Eu fiz o sinal da cruz
Caminhando para trás
E gritei: “Volta pro inferno
Vai de reto Satanás
Volte nos rastro que veio
Não perturbe o que é alheio”
Aí o bicho falou
Com voz de disco arranhado
“Vim de longe, tô cansado
Que o meu povo me mandou”.

“Eu vim do planeta Marte
Onde acabou-se a comida
Lá de cima a Paraíba
Foi a terra escolhida
Me mandaram em missão
Disseram que desse chão
Sai a comida mais forte
Mais gostosa e mais pura
Vou levar sua rapadura
E se não der vai ter morte”.

E partiu para o meu rancho
Levando sua feiúra
Sabia que ali estava
O estoque de rapadura
Deve ter sentido o cheiro
E eu tentei chegar primeiro
Mas o peste correu mais
E quando eu cheguei fui vendo
O bicho tava lambendo
E cheirando os costais.

Botou os zoião em mim
E disse: “Eu não quero ouro
Saí lá do meu planeta
Vim atrás desse tesouro
Vou levar tudo pra Marte”
E eu peguei um bacamarte
Que tava detrás da porta
Passei fogo no feioso
Mas, ou eu tava nervoso
Ou a mira tava torta.

Não acertei nem um chumbo
No rabo do desgraçado
Quando baixou a fumaça
O infeliz tava sentado
Num costal de rapadura
Com toda sua feiúra
Balançando o cabeção
Dizendo: “Pare com isso
Deixe desse reboliço
Pois assim não vai dar não”.

E um taco de rapadura
Ficou assim mastigando
E disse em tom de pirraça:
“Ouça o que eu estou falando
Você não pode comigo
Se teimar lhe dou castigo”
Aquilo me enfureceu
Tentei dar uma rasteira
Mas foi a maior besteira
Quem ficou no chão fui eu.

O feioso era ligeiro
Feito notícia ruim
Quando eu armei a rasteira
Acertou o rabo em mim
Foi mesmo no pé-do-ouvido
Até hoje ouço um zumbido
Dentro da minha orelha
Na hora eu caí pra trás
Aquilo doeu demais
Feito ferrão de abelha.

E eu pensei: “Agora mesmo
Aumentou meu interesse
Eu levando uma rabada
Dum fi-duma-égua desse
Já amansei burro brabo
Vou lhe pegar pelo rabo
Dar umas oito pirueta
Depois eu boto o imundo
Pra abrir no oco do mundo
E voltar pro seu planeta.

Mas quando agarrei no rabo
Do jeito do planejado
Ele soltou uma bufa
Que eu fiquei desnorteado
A bufa do infeliz
Acertou no meu nariz
Com uma intensidade
Que eu fiquei só girando
Uns três minutos rodando
Em busca de identidade.

Quando passou o efeito
Recobrei a consciência
Me deparei com uma cena
Que eu perdi a paciência
O bicho tava sentado
Muito bem acomodado
Fumando meu pé-de-burro
Bebendo minha cachaça
Feliz e achando graça
E me disse num sussurro:

“Agora, seu Zé Mane
Vou levar a rapadura
Gostei também da cachaça
Parece que essa é pura
Foi quando eu bolei um plano
Disse: “Oxente, seu fulano
Você não conhece cana
Eu tenho uma ali guardada
É a melhor qualificada
Brejeira, paraibana”.

Eu só não disse pra ele
Que a cachaça era um forno
Conhecida pelo nome
Rasga-Rabo, Amansa-Corno
Fui buscar o garrafão
Ele tomou da minha mão
Bebeu tudo de um gole
E girando o cabeção
Qual coruja no mourão
Ficou caindo de mole.

Deixei-o de quatro pé
Na porta do seu transporte
Disse: “Agora vamos ver
Se esse sujeito é forte
Trouxe um jumento de lote
Fiquei só de camarote
Assistindo aquela cena
O jegue deu uma varada
Que daquela presepada
Até hoje eu sinto pena.

O marciano acordou
E saiu de rabo ardendo
Com os zoião pegando fogo
E o ‘ás de copa’ doendo
Tava desorientado
Dizendo: “Fui enrabado”
Fez a nave ir pra riba
Saiu fazendo uma jura:
“Nem por toda a rapadura
Não volto na Paraíba”.

Obs: pedidos pelo E-mail: vicenteffilho2@yahoo.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário