terça-feira, 5 de julho de 2011

Recife iluminada por lampiões a base de óleo de mamona


Até 1822, as ruas do Recife não tinham iluminação pública de qualquer tipo, só eram iluminadas durante as chamadas grandes noites. Entre estas ocasiões especiais, estavam as festas de final de ano e o nascimento de um príncipe na Côrte, Rio de Janeiro. E o curioso dessa história é que, mesmo sem ter suas ruas iluminadas, todos os recifenses eram obrigados a pagar um imposto para custear a iluminação da Côrte.

O serviço de iluminação pública do Recife foi inaugurado em maio de 1822.
Os lampiões nas calçadas eram alimentados com óleo de mamona, que a população chamava de óleo de carrapateira. Os recifenses continuaram pagando o imposto para custear a iluminação do Rio de Janeiro até 1827, ano em que o governo decidiu que o arrecadado com o tributo passaria a ser aplicado na Capital da Província.

Em 1857, os lampiões da cidade passaram a utilizar como combustível o óleo de peixe, o que melhorou o desempenho da iluminação. Os postes ainda eram poucos, dezenas deles, mas o suficiente para que a população se orgulhasse do serviço que deu vida noturna a cidade.

Gasômetro de São José é inaugurado em 1859

A 26 de abril de 1856, dois comerciantes (Felipe Lopes Neto e Hény Gibson) e o engenheiro Manuel Barros Barreto se associam e firmam, com o governo, um contrato para instalação de gás no Recife, que seria fornecido por combustores, com luz equivalente, em densidade, a dez velas de espermacete.

Eles teriam o direito de explorar o serviço por trinta anos, mas não chegaram a concretizar seus planos. Transferiram o contrato para a empresa Roston Roocker & Cia, que também desistiu e repassou o projeto para a empresa Fielden Brothers.

Foi esta última empresa que concretizou a novo serviço de iluminação do Recife. Iniciou as obras de instalação de um gasômetro, no bairro de São José, e depois construiu o encanamento e instalou os combustores. O tão esperado gasômetro foi inaugurado a 26 de abril de 1859.

O sistema de iluminação pública do Recife, a gás carbônico, foi inaugurado, festivamente, um mês depois (26/05/1859). Naquela ocasião, a cidade já dispunha de 1.037 lampiões e a iluminação tornou-se bem mais potente.

Estação de trem e mercado, dois nobres pontos de luz

Antes mesmo que o Recife ganhasse o serviço de iluminação pública por energia elétrica, dois pontos da cidade já dispunham desse tipo de iluminação: a Estação Central, da rede ferroviária, e o Mercado do Derby, este construído pelo empresário Delmiro Gouveia que, mais tarde, seria o pioneiro na exploração do Rio São Francisco para a geração de energia.

A luz vinha de geradores e apareceu pela primeira vez em 1890, na estação ferroviária, atual Museu do Trem, que também estendeu o benefício para a pequena praça que ainda hoje existe em frente ao seu prédio.

Já o Mercado do Derby, que funcionou onde hoje fica o quartel da Polícia Militar, no Derby, foi inaugurado em 1898. Era uma espécie de precursor dos atuais shoppings, num imponente prédio onde se vendia de tudo, de carne, artigos importados, verduras, até gelo ou jornais.

E com uma grande atração: luz elétrica, que proporcionou aos comerciantes estenderem o horário comercial de suas lojas até às 8h da noite. Na frente do mercado, foi criada uma área de lazer, onde as festas para crianças e adultos, realizadas à noite, atraíam multidões. Era o ponto mais concorrido do Recife.

O Mercado do Derby (ou Mercado Modelo Coelho Cintra, seu nome oficial) foi destruído por um incêndio, na madrugada de 01 de janeiro de 1900. Dizem que o incêndio foi criminoso e que os seus autores foram os inimigos políticos de Delmiro Gouveia, na época chefiados pelo vice-presidente da República, o pernambucano Rosa e Silva.

O prédio ficou abandonado até 1909, quando foi recuperado e passou a abrigar a Escola de Aprendizes de Artífices. Tempos mais tarde, o edifício do velho mercado virou quartel da Polícia Militar. Quartel que ainda hoje existe no local.

Olinda pioneira

Antes mesmo do Recife, Olinda foi a primeira cidade do Nordeste brasileiro a contar com um sistema de iluminação pública através de energia elétrica. O fato aconteceu a 14 de julho de 1913, quando a Companhia Santa Tereza (Empreza de Illuminação Electrica e Abastecimento D?Água da Cidade de Olinda) inaugurou esse serviço na cidade. Até então, Olinda contou apenas com iluminação a gás, sistema também gerido pela Companhia Santa Tereza, de propriedade do empresário Claudino Coelho Leal.


Energia elétrica põe fim aos bondes puxados a burros

A 27 de outubro de 1913 é assinado o contrato, entre o governo estadual e a empresa The Pernambuco Tramways and Company Limited, para implantar os serviços de iluminação pública e residencial no Recife. A partir de então, gradativamente a cidade passou a ser iluminada, mas seria somente no ano seguinte, com a inauguração do serviço de bondes elétricos, a 13 de maio de 1914, que a cidade teria luz elétrica em larga escala.

O bonde, transporte coletivo da época, também era explorado pela Pernambuco Tramways, deu novo impulso ao desenvolvimento da Capital e circulou até o final da década de 1950.

No tempo em que o transporte coletivo puxado a burros foi aposentado, havia máquinas geradoras de energia elétrica para abastecimento da rede de bondes, à base de 500 volts, e duas estações rebaixadoras de corrente: uma na Rua Gervásio Pires e outra na Rua das Graças.

Essas estações transformavam a corrente alternada em contínua e, com o sistema já implantado, foi fácil adaptar o fornecimento de energia elétrica para as residências, substituindo a luz do gás carbônico. A energia era gerada por uma termelétrica, construída nas proximidades da Estação Central, com turbinas a vapor, movidas inicialmente a carvão e, depois, a óleo.

O banco de transformadores de corrente ficava na Rua do Sol e a rede de distribuição tinha postes de madeira e de ferro. A corrente fornecida pela usina era de 220 volts mas, como o serviço não era perfeito, em alguns lugares da cidade não chegava nem a 180 volts. Nestas áreas, a iluminação era fraca e o rádio tocava baixinho, como se fosse um rádio com pilhas fracas.

Apesar dos problemas técnicos iniciais, esse primeiro sistema de iluminação pública à base de energia elétrica deu grande contribuição ao desenvolvimento do Recife. E continuaria sendo utilizado até mesmo depois da chegada da energia do São Francisco, para reforçar o abastecimento da cidade.

Tem início em Pernambuco a era das hidrelétricas

O Recife passou a contar com energia elétrica gerada pelo Rio São Francisco no dia 01 de dezembro de 1954, às 06h da manhã, quando a Companhia Hidroelétrica do São Francisco-Chesf ligou o primeiro circuito para alimentar a rede da capital pernambucana.

A energia vinha da Hidrelétrica de Paulo Afonso, que acabara de ser construída em território baiano e que seria inaugurada oficialmente a 15 de janeiro de 1955, com a presença do então presidente da República, João Café Filho.

Naquela época, a cidade era iluminada pelo sistema da Pernambuco Tramways, através de termelétrica, que já não conseguia atender as necessidades dos consumidores. Daí, a chegada da energia elétrica de Paulo Afonso (que também passou a iluminar a cidade de Salvador e outras regiões do Nordeste) ter sido celebrada com festas.

Mas, houve problemas, também. Com a usina ainda em fase de testes, o governo levou a energia da Chesf para outras cidades, o sistema apresentou falhas e vieram os protestos.

Foi nessa fase, por exemplo, que a população da cidade de Jaboatão saiu às ruas para protestar contra os apagões programados por um rigoroso plano de racionamento, adotado pelas autoridades enquanto as falhas no sistema de transmissão eram reparadas. (Veja o texto População de Jaboatão foi às ruas para impedir apagões).

Quando o Recife foi iluminada pela energia de Paulo Afonso, já haviam passados 41 anos da primeira experiência de utilização das águas do Rio São Francisco para a produção de energia elétrica.

O pioneiro desse sistema foi o empresário cearense Delmiro Gouveia, que em 1913 inaugurou, no penhasco da cachoeira de Paulo Afonso, na margem alagoana do rio, uma pequena hidrelétrica, para mover uma fábrica de linhas de coser e iluminar uma vila operária, instaladas por ele na localidade de Pedras (AL), a 24 km dali.

Pernambuco já foi atingido por apagões

Nos últimos 15 anos, os pernambucanos presenciaram, pelo menos, dois grandes apagões acidentais. Um deles ocorreu em 1987, quando o Estado ficou totalmente às escuras por cerca de três horas. Mas, o blecaute que mais danos causou ao Estado ocorreu em agosto de 2000 e foi parcial.

Atingiu apenas os municípios de Jaboatão dos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho, Ipojuca e Escada, deixando um prejuízo de R$ 8,5 milhões a cerca de 40 indústrias que operam no Complexo Industrial Portuário de Suape e demais áreas afetadas. Na ocasião, a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) classifiou o incidente como o maior apagão dos últimos dez anos em Pernambuco.

Tudo aconteceu às 18h03m da quinta-feira 24 de agosto de 2000, quando o rompimento de um cabo na linha de transmissão da Chesf interrompeu o fornecimento de energia na área sul da Região Metropolitana do Recife e algumas cidades da Zona da Mata.

O apagão durou sete horas e trinta minutos e, de acordo com a Chesf, afetou a vida de 750 mil pessoas. O blecaute comprometeu entre 5% e 7% de toda a carga elétrica do Estado. Para contornar o problema, a Chesf utilizou 30 homens numa operação de emergência e o abastecimento na área atingida só foi totalmente normalizado à 01h33m da sexta-feira 25 de agosto.

Segundo os técnicos, o rompimento do cabo que gerou o apagão foi provocado por um defeito num esforçador (peça que separa um cabo do outro) instalado num trecho do município de Moreno, exatamente no cruzamento da linha de transmissão de 500 quilovolts que vinha de Paulo Afonso (BA) com outro trecho de transmissão de energia de 230 quilovolts para a subestação de Pirapama.

Ou seja, foi um problema operacional. Apesar de menos abrangente que o de 1987, este último apagão trouxe mais prejuízos para Pernambuco porque ocorreu numa área onde está localizado o pólo industrial do Estado.


População de Jaboatão foi às ruas para impedir apagões


Mesmo antes de 2001 – quando o Brasil se assustou com uma série de apagões promovidos pelo Governo para forçar a população economizar energia -, Pernambuco já havia convivido com o racionamento de energia elétrica através de apagões programados. Aconteceu em 1954 e provocou todo tipo de reação. Em Jaboatão, a população foi às ruas e impediu que a Companhia energética desligasse as luzes da cidade.

A empresa que abastecia o município era a Pernambuco Tramways, sediada no Recife. Com a capacidade de produção esgotada e, para evitar o colapso na Capital, a concessionária adotou uma série de medidas restritivas, sendo a principal delas a suspensão temporária da energia enviada para Jaboatão.

O racionamento entrou em vigor no início de novembro e, diariamente, Jaboatão ficava três horas às escuras, entre 17h30m e 20h30m. O corte era feito por um funcionário da empresa, na localidade de Volta do Caranguejo, no distrito de Socorro. Apesar dos transtornos causados, os primeiros dias de apagões foram encarados com serenidade pela população.

Um mês mais tarde, quando a Pernambuco Tramways passou a receber energia gerada pela Companhia Hidroelétrica do São Francisco-Chesf e, mesmo assim, não suspendeu o racionamento, os ânimos se exaltaram.

A situação azedou de vez no dia 12 de dezembro, quando dezenas de pessoas se dirigiram à Volta do Caranguejo, dispostas a impedir a interrupção do fornecimento de energia. Sem condições de enfrentar a multidão, o funcionário encarregado de desligar a rede desistiu de sua tarefa e, naquela noite, não houve apagão na cidade.

A mobilização popular prosseguiu nos dois dias seguintes, exatamente da mesma forma. Mas, como não havia mesmo energia suficiente, tudo terminou com um acordo: o apagão foi reduzido para apenas uma hora, entre às 17h30m e 18h30m. Ao justificar os protestos, a população de Jaboatão indagava: por que os apagões no mesmo momento em que o governo festejava a conclusão da primeira grande hidrelétrica da Chesf, que iria iluminar todo o Nordeste?


O problema era que a Usina de Paulo Afonso ainda operava em caráter experimental e, toda vez que ocorria algum problema nos geradores ou na linha de transmissão entre Paulo Afonso e a subestação do Bonji, a Pernambuco Tramways era obrigada a operar somente com a sua já defasada termelétrica e o racionamento era inevitável. Os apagões, também.

Detalhes curiosos: a atitude dos moradores de Jaboatão foi considerada ousada porque ocorreu num dia em que o presidente da República, Café Filho, permaneceu seis horas no Recife, inaugurando obras, o que não inibiu o povo de ir às ruas.

O país vivia uma grave crise política, desencadeada pelo suicídio de Getúlio Vargas.

As autoridades não se entendiam sobre a tarifa de energia a ser cobrada pela novata Chesf. E, diferentemente do que ocorreu em 2001, o Nordeste não estava ameaçado de blecaute. Pelo contrário, iniciava a sua fase de grande gerador de energia, através de modernas hidrelétricas no Rio São Francisco.

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