sábado, 6 de agosto de 2011

Tesouro escondido em engenho


Patrimônio // Localizado em Comporta, Jaboatão, o São Bartolomeu, datado de 1636, guarda relíquias esquecidas pelo poder público

Por: Mirella Marques

A população da comunidade de Comporta, em Jaboatão dos Guararapes, nem desconfia que existe um tesouro histórico bem debaixo de seu nariz. É lá que está localizado o Engenho São Bartolomeu, um dos mais antigos da Região Metropolitana do Recife.

Casa-grande foi modificada. Recebeu pintura nova e abriga uma biblioteca e uma igreja evangélica. Foto: Inês Campelo/DP DA Press
Construída em 1636, a casa-grande foi morada de judeus, cristãos-novos e holandeses. Paredes da feitoria e da senzala ainda resistem ao tempo. Mas foram totalmente modificadas. Inclusive pintadas, para abrigar uma biblioteca e uma igreja evangélica. Desde que seu último dono morreu, em meados da década de 1980, o engenho foi fechado. Isso não impede que o terraço da casa seja utilizado pelos vizinhos como salão de festas. Até uma churrasqueira foi encontrada pelo Diario na área que deveria ser tombada. Foi no São Bartolomeu que o tradicional bolo de mandioca pernambucano ganhou o nome com o qual é conhecido até hoje: Souza Leão, sobrenome da esposa de um dos senhores de engenho.

Os moradores até sabem que aquela casa e suas ruínas representaram algo de muito importante no passado. Sabem porque seus pais e avós contaram. Sabem porque muitos são descendentes de escravos ou de camponeses que trabalharam no local. Mas, apesar da consciência, o lugar está depredado. Os cavalos passeiam livremente pela propriedade. Objetos históricos, como a balança de pesagem de cana-de-açúcar usada pelos senhores no século passado, são guardados sem cuidados. "Achei essa balança quando estava limpando o mato em frente de casa", comentou, inocente, Edna Maria da Silva, que trabalhou para José Miguel da Silva Neto, último proprietário do São Bartolomeu.

Segundo o secretário de Cultura e Eventos de Jaboatão, Ivan Lima Filho, o pedido para tombamento municipal da casa-grande já seguiu para avaliação do prefeito Elias Gomes. "Sem tombar, não conseguimos preservar o engenho. Acredito que, em 90 dias, já conseguiremos esse título", afirmou o secretário. Por meio do processo de tombamento, a prefeitura poderá comprar a casa dos atuais proprietários e começar, efetivamente, o processo de revitalização da área. O valor das obras, incluindo a construção de um pequeno polo cultural, está orçado em R$ 700 mil. "Desse total, garantimos R$ 300 mil. Vamos buscar o restante junto aos governos estadual e federal", explicou Ivan.

História - O forte do Engenho São Bartolomeu não era a produção de açúcar, mas de aguardente. Seu primeiro dono foi o judeu Fernão do Vale, que herdou a propriedade do irmão, Fernão Soares. Os dois eram holandeses. Fernão do Vale chegou a participar das reuniões da Batalha dos Guararapes. Ouvia os planos dos pernambucanos e portugueses e delatava aos conterrâneos. Ele foi pego dentro do São Bartolomeu pelos portugueses, vitoriosos. Nunca mais foi encontrado. Nessa época, a família mandou trazer da Holanda a imagem de São Bartolomeu. Reza a lenda que ele aparece à noite para os moradores, informando que existem riquezas enterradas no terreno atrás da casa-grande.

Até agora, ninguém escavou a área. Em 1831, o engenho foi vendido para uma viúva, Francisca Xavier Cavalcanti. Trabalhavam, na época, 34 escravos. "Em 1856, a esposa de outro senhor de engenho, Rita de Paula Souza Leão, preparou o famoso bolo de Souza Leão aqui", garantiu a pesquisadora Eulina Maciel, que estuda sobre o engenho há 27 anos. Em 1900, o engenheiro agrônomo Augusto de Castro comprou a terra. As mudas que ele plantou tornaram-se árvores centenárias, que ainda hoje embelezam a propriedade.

OBS.:
Casa-grande foi modificada. Recebeu pintura nova e abriga uma biblioteca e uma igreja evangélica. Foto: Inês Campelo/DP DA Press.

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