quarta-feira, 18 de maio de 2011

Boi Bumbá



Cada apresentação é uma experiência inesquecível. Assiste-se, tudo ao mesmo tempo, uma suntuosa apresentação musical, uma procissão religiosa, um ritual tribal, um show de bonecos gigantescos, um conto de fadas com poderosos vilões e bravos heróis, uma apresentação folclórica, uma grandiosa festa para a platéia e uma energizante coreografia da “galera” – torcedores do “Boi”.

Apesar de ambos os “Bois” – como são chamadas as equipes – contarem a mesma história todas as noites, de forma que você a assiste 6 vezes o mesmo espetáculo, cada noite é diferente, pois as lendas, os rituais, as danças tribais, os bonecos, os trajes, as alegorias, tudo muda, tornando-se num espetáculo completamente novo.

Boi Garantido
Boi Caprichoso

Há muitos festivais no Brasil, mas o de Parintins é de longe o maior e mais espetacular. É ao mesmo tempo um show e uma disputa. Há duas equipes competindo – o “Boi” Caprichoso e o “Boi” Garantido. O “Boi” é o personagem principal da história que é apresentada todas as noites. O lugar para o festival é uma arena que acomoda 35.000 espectadores.

Cada “Boi” tem 3 horas para se apresentar e se você ainda quiser mais, a cidade o aguarda depois das apresentações com comidas, bebidas e baladas. A praça, os inúmeros bares e lugares próximos ao “Bumbódromo” sem hora para fechar, recebem o público ainda cheio de energia para mostrar suas habilidades na dança, nas coreografias e músicas do festival.

O festival folclórico de Parintins segue princípios fundamentais em que expressa a cultura espontânea, evolui exclusiva e livremente através de uma dinâmica própria . Exemplo disso é que não se consegue afirmar, com certeza absoluta, como foi, exatamente, que teria começado. Teria se iniciado quando Lindolfo Monteverde, criador do “Boi” Garantido, teria colocado em prática uma das histórias que ele ouvia de seu avô quando criança? Poderiam ter sido os Irmãos Cid, juntamente com José Furtado Belém, que teriam fundado o “Boi” Caprichoso?

Tanto o “Boi” Garantido quanto o “Boi” Caprichoso, teriam nascido graças às promessas feitas a São João Batista. Por motivos diferentes, mas tendo as promessas sido atendidas cumpririam o que prometiam e, ambos os “Bois”, a partir dali, se apresentariam todos os anos – isso era garantido – diria o Garantido; e no capricho – diria o Caprichoso.

O festival conta a história do Pai Francisco – funcionário da fazenda e sua esposa grávida, a Mãe Catirina, desejosa de comer língua de boi. Pai Francisco mata o melhor boi da fazenda para satisfazer o desejo da esposa. Pai Francisco seria levado à cadeia, mas a história tem um final feliz, com o “Boi” sobrevivendo graças aos rituais do pajé. Pai Francisco é perdoado e tudo acaba numa enorme festa celebrando a vida do “Boi”.

O festival de Parintins começou modestamente. Naqueles dias, eram simples procissões pelas ruas da cidade. Com o passar do tempo, o festival, a história e os personagens foram mudando para incorporar as lendas de índios locais, os rituais, as músicas e as danças. Celebra também o tradicional estilo de vida do caboclo – o homem da amazônia.

A disputa
O festival é também um desafio e o vencedor é escolhido por um júri, que avalia a performance de cada “Boi” em diversas categorias: apresentação do “Boi”, apresentação da tribo indígena, apresentação dos tuxauas – chefes indígenas -, apresentação do rituais xamanísticos, melhor música, melhores alegorias, melhor coreografia etc.

Um dos mais fascinantes aspectos do festival é a participação do público que lota o “Bumbódromo” – local onde se apresenta o festival. O apoio da “galera” é uma das categorias julgadas na disputa, então cada “Boi” tem pessoas especialmente designadas para comandar e orquestrar a “galera”.

O “Bumbódromo” fica dividido em duas metades, de forma que fãs do Garantido e fãs do Caprichoso ficam nos seus respectivos “territórios”. Durante a apresentação do seu “Boi” os fãs dançam, balançam lenços e candeias. A energia da “galera” vibra com a entrada de cada personagem no “Bumbódromo”.

Mas você não pode nunca, jamais, torcer para o outro “Boi” – se você fizer isso, estará contribuindo para a vitória do “Boi” contrário. A disputa é levada a sério aqui, as pessoas tem uma paixão louca pelo seu “Boi”. Todos em Parintins tem raízes voltadas para algum deles, Caprichoso ou Garantido, não há meio termo.

Interessante como a “galera” do “Boi” contrário silencia completamente durante uma apresentação, isso porque até mesmo a vaia daria pontos preciosos para o “Boi” que estiver se apresentando e ninguém quer dar pontos para o “contrário”.

Na manhã do quarto dia, o vencedor é anunciado. “Galera” e torcedores do “Boi” vencedor dão início a uma parada improvisada que toma as ruas de Parintins. Este é um momento de muita emoção para ambos os lados – ganhadores e perdedores. A polícia militar está sempre alerta para reforçar a ordem de forma eficiente, evitando qualquer briga ou tumulto.

Parintins
Gente simpática, que pinta as fachadas de suas casas na cor do seu “boi” preferido, anda pelas ruas de bicicleta. Motociclistas fazem o papel de taxistas. Bicicletas são adaptadas com um banco e levam os passageiros por toda a cidade.

Os “currais”, como são chamados os lugares de concentração de cada um dos bois, são dois. Um do Caprichoso e outro do Garantido. Cada um localiza-se numa parte da cidade.

O turismo é uma importante fonte de renda para o município. Diferentes opções são oferecidas, como por exemplo, para quem gosta de pescar a época de visitar Parintins é durante a vazante dos rios, de setembro a dezembro. Uma ótima opção é mergulhar nas águas limpas do rio Uaicurapá. Seguir até o lago Macurany para passear de barco, lancha ou jet ski.

O artesanato conta com trabalhos feitos pelos indígenas Sateré-Mawé e Wai-Wai, que utilizam penas e sementes variadas para formar colares, brincos e outros tipos de adornos. Outros trabalhos populares utilizam raízes, palhas, juta.

Às margens do rio Amazonas, foi fundada no século XVIII, quando José Pedro Cordovil, a pedido do governo português, aportou à região dando-lhe o nome de Tupinambarana. Os antigos habitantes eram os índios Maués, Sapupés e Parintintins. Somente em 1880 é que Parintins ganhou status de cidade e recebeu este nome.

O clima é tropical, úmido e chuvoso, com temperaturas entre 22ºC e 30ºC . A vegetação, formada por florestas de várzea e terra firme, produz abacate, banana, cacau, café, caju, mandioca, melancia, melão, abacaxi, batata-doce, coco, milho, feijão. A pecuária conta principalmente com bovinos, produzindo carne e leite não somente para consumo local, mas também para Manaus. O relevo compõe-se de lagos, ilhotas e uma pequena serra com apenas 154m de altura.


Boibumba.com
Texto: Sheila Cirigola
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