Governava a Paraíba Ambrósio Leitão da Cunha, natural do Pará e formado em ciências jurídicas. Foi ele quem recebeu o ofício do ministro dos Negócios do Império comunicando que sua majestade visitaria a Paraíba ao mesmo tempo que enviava a importância de um conto de réis para as despesas de hospedagem das figuras reais. Isso desencadeou uma verdadeira febre em todo o Estado que, pobre como era, tinha de receber, à altura, tão augustas figuras que dificilmente passariam outra vez por esses rincões.
Com mais três contos de réis vindos da Corte, o governo começou a tarefa de preparar a cidade para a chegada real. Mobília, tapetes, utensílios próprios de um quarto - como um urinol em bronze, serviços completos de almoço e chá da melhor porcelana inglesa -, tudo isso começou a ser providenciado para que suas majestades tivessem uma recepção à altura da coroa que carregavam.
Datando do século XVIII, o palácio do governo precisou de reformas e adaptações para se tornar uma morada imperial. Tudo era necessário: desde a construção de novas alas até substituição de móveis, colocação de tapetes e uma repintura nas velhas paredes. As despesas se elevaram a mais de seis contos de réis. Chegou enfim o dia 24 de dezembro de 1859 e à uma hora da tarde a esquadra imperial passava em frente à Fortaleza de Santa Catarina, em Cabedelo, onde foi saudada com uma salva de canhões.
Da fortaleza, dirigiu-se ao estuário do Rio Paraíba e de lá tomou o destino do antigo Porto do Varadouro. Embarcações nacionais e estrangeiras já atracadas colocaram-se em linha saudando com tiros de peças de artilharia a chegada do imperador. Exatamente às 16h30, desembarcaram do vapor APA dom Pedro II e dona Tereza Cristina, numa galeota ornamentada com finas flores.
O imperador, envergando uniforme de general, foi recebido pelo presidente da Câmara de Vereadores e por mais de cinquenta senhoras. Segundo Maurílio de Almeida em seu Presença de Dom Pedro II na Paraíba, ali mesmo a mão de sua majestade foi beijada sob os mais frenéticos vivas e aclamações do povo. Talvez date desse tempo o costume tão popular de beijar mãos de poderosos, comum em nossa província.
No dia seguinte, suas majestades dirigiram-se ao porto de Cabedelo onde ficavam as principais fortificações militares da época. Dom Pedro embarcou novamente no APA e tomou destino à cidade costeira acompanhado pelo governador, a quem fazia sucessivas indagações e tudo anotava numa caderneta de bolso. Essa foi uma das marcas do viajante Pedro que ele conservou até o fim da vida.
Observador arguto, a tudo inquiria e perguntava. Em Cabedelo, visitou a Fortaleza de Santa Catarina e fez questão de ler as antigas inscrições de canhões holandeses remanescentes da invasão à nossa costa, demonstrando perfeito conhecimento da língua. Nesse momento, deu-se um fato pitoresco: um velho soldado aproximou-se do imperador furando o bloqueio ao seu redor e lhe pediu uma ajuda queixando-se que seu soldo de reformado era insuficiente. O imperador, atendendo ao pedido, mandou que lhe fosse dada uma régia esmola e ainda mandou que ele requeresse aumento do seu soldo de reformado.
A história não registra em quanto orçou essa esmola, mas não deve ter sido assim tão régia, pois o próprio Imperador, para viajar à Paraíba, tomou dinheiro emprestado e destinou à sua esposa, para todos os gastos da viagem, a minguada importância de três mil e seiscentos contos de réis, pagos em seis prestações. Não existiam as facilidades para as viagens como hoje. Dom Pedro não limitou sua viagem à capital.
Ele foi a cavalo, com grande comitiva de aduladores, até a cidade de Pilar que era importante centro açucareiro. Como a caminhada fosse longa, o imperador fez duas paradas: uma no Engenho São João, onde tomou o desjejum, e outra no Engenho Marau, de propriedade dos frades de São Bento, onde deveria almoçar. Ótimo cavaleiro, dom Pedro imprimiu tal ritmo à cavalgada que chegou a Pilar antes da hora e encontrou a Câmara Municipal fechada sem ninguém à sua espera. Todos faziam a toalete. De Pilar, dom Pedro foi a Mamanguape, de onde voltou numa só caminhada a João Pessoa.
Finalmente, no dia 30 de dezembro, o vapor APA levou embora os imperadores e parte da alegria. Somente uma parte, pois a visita real deixou na Paraíba vários títulos nobiliárquicos: dois barões, seis comendadores, 21 oficiais e 36 cavaleiros da Rosa, além de 25 cavaleiros da Ordem de Cristo. Uma boa colheita.
Jornal da Paraíba de 09/11/2009
Com mais três contos de réis vindos da Corte, o governo começou a tarefa de preparar a cidade para a chegada real. Mobília, tapetes, utensílios próprios de um quarto - como um urinol em bronze, serviços completos de almoço e chá da melhor porcelana inglesa -, tudo isso começou a ser providenciado para que suas majestades tivessem uma recepção à altura da coroa que carregavam.
Datando do século XVIII, o palácio do governo precisou de reformas e adaptações para se tornar uma morada imperial. Tudo era necessário: desde a construção de novas alas até substituição de móveis, colocação de tapetes e uma repintura nas velhas paredes. As despesas se elevaram a mais de seis contos de réis. Chegou enfim o dia 24 de dezembro de 1859 e à uma hora da tarde a esquadra imperial passava em frente à Fortaleza de Santa Catarina, em Cabedelo, onde foi saudada com uma salva de canhões.
Da fortaleza, dirigiu-se ao estuário do Rio Paraíba e de lá tomou o destino do antigo Porto do Varadouro. Embarcações nacionais e estrangeiras já atracadas colocaram-se em linha saudando com tiros de peças de artilharia a chegada do imperador. Exatamente às 16h30, desembarcaram do vapor APA dom Pedro II e dona Tereza Cristina, numa galeota ornamentada com finas flores.
O imperador, envergando uniforme de general, foi recebido pelo presidente da Câmara de Vereadores e por mais de cinquenta senhoras. Segundo Maurílio de Almeida em seu Presença de Dom Pedro II na Paraíba, ali mesmo a mão de sua majestade foi beijada sob os mais frenéticos vivas e aclamações do povo. Talvez date desse tempo o costume tão popular de beijar mãos de poderosos, comum em nossa província.
No dia seguinte, suas majestades dirigiram-se ao porto de Cabedelo onde ficavam as principais fortificações militares da época. Dom Pedro embarcou novamente no APA e tomou destino à cidade costeira acompanhado pelo governador, a quem fazia sucessivas indagações e tudo anotava numa caderneta de bolso. Essa foi uma das marcas do viajante Pedro que ele conservou até o fim da vida.
Observador arguto, a tudo inquiria e perguntava. Em Cabedelo, visitou a Fortaleza de Santa Catarina e fez questão de ler as antigas inscrições de canhões holandeses remanescentes da invasão à nossa costa, demonstrando perfeito conhecimento da língua. Nesse momento, deu-se um fato pitoresco: um velho soldado aproximou-se do imperador furando o bloqueio ao seu redor e lhe pediu uma ajuda queixando-se que seu soldo de reformado era insuficiente. O imperador, atendendo ao pedido, mandou que lhe fosse dada uma régia esmola e ainda mandou que ele requeresse aumento do seu soldo de reformado.
A história não registra em quanto orçou essa esmola, mas não deve ter sido assim tão régia, pois o próprio Imperador, para viajar à Paraíba, tomou dinheiro emprestado e destinou à sua esposa, para todos os gastos da viagem, a minguada importância de três mil e seiscentos contos de réis, pagos em seis prestações. Não existiam as facilidades para as viagens como hoje. Dom Pedro não limitou sua viagem à capital.
Ele foi a cavalo, com grande comitiva de aduladores, até a cidade de Pilar que era importante centro açucareiro. Como a caminhada fosse longa, o imperador fez duas paradas: uma no Engenho São João, onde tomou o desjejum, e outra no Engenho Marau, de propriedade dos frades de São Bento, onde deveria almoçar. Ótimo cavaleiro, dom Pedro imprimiu tal ritmo à cavalgada que chegou a Pilar antes da hora e encontrou a Câmara Municipal fechada sem ninguém à sua espera. Todos faziam a toalete. De Pilar, dom Pedro foi a Mamanguape, de onde voltou numa só caminhada a João Pessoa.
Finalmente, no dia 30 de dezembro, o vapor APA levou embora os imperadores e parte da alegria. Somente uma parte, pois a visita real deixou na Paraíba vários títulos nobiliárquicos: dois barões, seis comendadores, 21 oficiais e 36 cavaleiros da Rosa, além de 25 cavaleiros da Ordem de Cristo. Uma boa colheita.
Jornal da Paraíba de 09/11/2009
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