quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Chico Pedrosa: “Um vendedor de sonhos”



Crato. “Um vendedor de sonhos”. É assim que o poeta e Mestre da Cultura da Paraíba, Chico Pedrosa, se define. Apontado pela crítica como um dos dez maiores poetas populares do Brasil, no meio de uma constelação poética, que inclui Patativa do Assaré, Zé da Luz, Catulo da Paixão Cearense, Zé Praxedes e Zé Laurentino, Chico Pedrosa justifica que não tem nada a ver com o livro “O Vendedor de Sonhos”, do autor Augusto Cury. A auto-definição está relacionada com a sua vida de viajante por este Brasil afora e pelos sonhos e emoções que vende por meio das suas poesias.

Durante 36 anos, Chico Pedrosa foi vendedor de auto-peças. Andou o Nordeste inteiro com uma pasta e uma lista de preços. Enquanto abastecia o mercado com peças de automóveis, enchia de sonhos, utopias e ilusões os amantes da poesia. Foi inspirado em sua própria profissão, na luta pela sobrevivência, que ele fez o poema “O Vendedor de Berimbau”, que retrata o relacionamento, nem sempre amistoso, entre os vendedores e os clientes.

“Foi uma forma de protestar contra os ‘chás de cadeira’ que eu levei nas ante-salas das gerências dos estabelecimentos comerciais”, afirma. Quando se aposentou, na década de 1980, o poeta tomou o caminho de volta às origens. Dedicou-se exclusivamente à poesia. Continuou viajando, agora vendendo sonhos, como um dom Quixote do sertão, cavaleiro andante que vivia num mundo de sonhos e resolveu caminhar pela Espanha à procura de muitas aventuras.

O poeta caminha pelo Nordeste levando nos seus alforjes os 36 anos de experiência como vendedor e, principalmente, um amor telúrico ao sertão. Nos últimos anos, tem participado de diversos shows, apresentando sua poesia ao público nacional, em especial nas grandes capitais: Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Brasília (DF) e Recife (PE). O seu poema mais conhecido é “Briga na Procissão”, também chamado “Jesus na cadeia”. Emotivo, como todo bom poeta, ele chora ao recitar algumas de suas poesias. De fato, não esconde a emoção das suas obras.

Recentemente, o poeta esteve no Cariri, nos braços do Programa BNB de Cultura, uma linha de patrocínio direto do Banco do Nordeste para apoio à produção e difusão da cultura nordestina. “Aqui, eu estou em casa, ou melhor, na casa de Patativa, que foi meu grande amigo, com quem dividi palcos, shows e mesas de bebidas”, lembra o poeta. Na entrevista, que concedeu à Rádio Educadora, o poeta paraibano emocionou o Cariri de Patativa com suas poesias.

Biografia

Nascido em 1936, poeta popular e declamador, Chico Pedrosa tem três livros publicados: “Pilão de Pedra I”, “Pilão de pedra II” e “Raízes da Terra”, além de vários cordéis escritos. Tem poemas e músicas gravadas por cantores e cantadores como Téo Azevedo, Moacir Laurentino, Sebastião da Silva, Geraldo do Norte, Lirinha, dentre outros.

Lançou três CDs, intitulados “Sertão Caboclo”, “Paisagem Sertaneja” e “No meu sertão é assim”, registrando assim a sua poesia oral. Atualmente, ele é cultuado pela geração nova, como o pessoal do “Cordel do Fogo Encantado”, que em seus shows declamam poemas desse “poeta matuto”.

FIQUE POR DENTRO
A briga na procissão, por Chico Pedrosa

Quando Palmeira das Antas pertencia ao Capitão Justino Bento da Cruz nunca faltou diversão: vaquejada, cantoria, procissão e romaria sexta-feira da paixão.

Na quinta-feira maior, Dona Maria das Dores no salão paroquial reunia os moradores e depois de uma preleção ao lado do Capitão escalava a seleção de atrizes e atores.

O papel de cada um o Capitão escolhia a roupa e a maquilagem eram com Dona Maria e o resto era discutido, aprovado e resolvido na sala da sacristia.

Todo ano era um Jesus, um Caifaz e um Pilatos só não mudavam a cruz, o verdugo e os maus-tratos, o Cristo daquele ano foi o Quincas Beija-Flor, Caifaz foi o Cipriano, e Pilatos foi Nicanor. Duas cordas paralelas separavam a multidão pra que pudesse entre elas caminhar a procissão.

Cristo conduzindo a cruz foi não foi advertia o centurião perverso que com força lhe batia era pra bater maneiro mas ele não entendia devido um grande pifão que bebeu naquele dia do vinho que o capelão guardava na sacristia. Cristo dizia: ´Ôh, rapaz, vê se bate devagar já tô todo encalombado, assim não vou agüentar tá com a gota pra doer, ou tu pára de bater ou a gente vai brigar.


ANTÔNIO VICELMO
Diário do Nordeste

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