sexta-feira, 4 de março de 2011

Conflito na Paraíba resulta no assassinato de João Pessoa

1930 - O ASSASSINATO DE JOÃO PESSOA


João Pessoa, eleito presidente da Paraíba em 1928, foi assassinado no dia 26 de julho de 1930, no interior de uma confeitaria em Recife, Pernambuco. De sua biografia consta que razões de cunho político motivaram o homicídio, mas outros relatos dão versão diferente ao acontecimento. Um deles pode ser encontrado no site da Assembléia Legislativa de Pernambuco, cujo endereço é www.alepe.pe.gov.br. O texto diz que:

Em 1928, foi eleito presidente do seu Estado (...) No ano seguinte teve seu nome lançado para vice-presidente na chapa de Getúlio Vargas, pela Aliança Liberal. (...) A campanha foi conturbada na Paraíba, principalmente quando um dos aliados de João Pessoa, o "coronel" José Pereira, chefe político no município de Princesa, rompeu com os aliancistas e aderiu (...) à candidatura Júlio Prestes e Vital Soares, apoiada pelo presidente Washington Luís. Sob o comando de Pereira, a cidade de Princesa iniciou uma rebelião contra o Governo estadual. Nesse período, realizou-se o pleito presidencial que deu a vitória à chapa governista. Inconformados com o resultado, os opositores iniciaram um movimento para impedir a posse de Júlio Prestes. (...) Sem armas para enfrentar os rebeldes, a Polícia paraibana passou a invadir casas e escritórios de pessoas suspeitas de estocar armamentos e munições destinadas aos comandados de José Pereira. O jornal paraibano A União noticiou, então, a invasão à casa de João Dantas, (...) de onde vários papéis foram confiscados. Entre essa documentação, estavam cartas de amor trocadas por Dantas e uma namorada, Anayde Beiriz. O episódio levou à exacerbação dos ânimos e culminou com o assassinato de João Pessoa, na Confeitaria Glória, no Recife, por João Dantas. Discute-se, ainda hoje, o real motivo do crime: se político ou passional.

O ano de 1930 nascera sob maus presságios. Poucos meses antes, o crack na bolsa de Wall Street em Nova Iorque já estava repercutindo negativamente sobre a economia brasileira, com a crise na cafeicultura e nas exportações.

A sucessão presidencial ia num crescendo preocupante. Antônio Carlos, presidente de Minas, era o candidato natural à sucessão de Washington Luís, um paulista de Macaé, e que, findo o seu quadriênio no Catete, deveria ser sucedido por um mineiro, em obediência à tradição republicana.

Citado por Alzira Vargas do Amaral Peixoto, no livro Getúlio Vargas, Meu Pai - Ed. Globo - Pág. 47, o catarinense Lauro Müller, com a frustração dos sonhos de seu estado em fazê-lo presidente da República, dizia numa clarividente previsão:

- Enquanto o governo do país permanecer nas mãos desses portugueses de Minas e de São Paulo, não haverá perigo; cuidado, porém, com esses espanhóis do Rio Grande do Sul, porque estes, se tomarem conta do poder, custarão a sair.

Com o apoio de Washington Luís a outro paulista (no caso, Júlio Prestes), rompia-se a monotonia dessa gangorra Minas-São Paulo. Aí, bafejada pela reação e pelo estímulo mineiros, surgia a candidatura de Getúlio, presidente do Rio Grande do sul, que até então se mantivera fiel à orientação política do governo federal - fora antes, inclusive, seu ministro da Fazenda - , mas que se transformaria no candidato da oposição.

O companheiro de chapa era o presidente da Paraíba, João Pessoa, a braços com a rebelião local de José Pereira num reduto no interior paraibano, que todos imaginavam apoiado por Washington Luís e que, à frente de jagunços, anunciava a criação do Território Livre de Princesa.

Dias após as eleições, realizadas a 1º de março, a vitória da chapa Júlio Prestes-Vital Soares era tão esmagadora que normalmente deveria desestimular qualquer protesto da oposição. Mas acontece que essa oposição não aceitava o resultado das urnas, acusando-o de falso porque obtido através de extensa fraude eleitoral. Era a primeira vez que a oposição derrotada reagia. Mas não seria a última em que se falaria de fraude. Muito pelo contrário.

A revolução, coordenada por Góes Monteiro, Oswaldo Aranha, João Alberto, João Neves da Fontoura, Flores da Cunha, Maurício Cardoso, Antunes Maciel, João Carlos Machado, Virgílio de Melo Franco, Juarez Távora, Juracy Magalhães, Afonso de Albuquerque Lima, Batista Luzardo e vários outros, já estava praticamente na rua e sua articulação atingiu o auge do emocionalismo com o assassinato de João Pessoa, na Confeitaria Glória, Recife.

Em www.paraiba..pb.gov.br, texto datado de 05.01.2005 lança um pouco mais de luz sobre a tragédia. Com o título “Um centenário de nascimento da poetisa Anayde Beiriz, mártir da maior cafajestada da história política da Paraíba”, ele diz:


O próximo dia 18 de fevereiro é a data que marca o centenário do nascimento da professora e poetisa paraibana Anayde Beiriz. Provavelmente, esta data passaria despercebida por muitos não fosse uma reforma que atualmente está em andamento na casa localizada à rua Santo Elias, 176, em João Pessoa. (...) O fato serviu para resgatar um pouco da história de Anayde Beriz, que no filme "Paraíba, mulher macho", teve sua importância reduzida à condição de mera amante do assassino do presidente João Pessoa. Diferentemente do que é apresentado no longa metragem de Tizuka Yamazaki, Anayde Beiriz não foi uma simples passageira do tempo que entrou para história por trágica casualidade do destino, mas provavelmente a mais importante personagem feminina da história paraibana. Anayde escrevia para os jornais da época. Mulher bastante ousada que ia de encontro aos preceitos dogmáticos de uma sociedade dominada pelo machismo conservador, ela foi a primeira a usar os cabelos pintados e cortados muito curtos, à "la garçonne". Passeava pelas ruas desacompanhada, fumava, usava decotes sensuais e era avessa á idéia de casar e ter filhos. Aos dezessete anos concluiu o curso normal, diplomada em primeiro lugar da turma, e com vinte anos ganhou um concurso de beleza. Porém, em seus curtos vinte e cinco anos de vida, destacou-se como uma combatente defensora da igualdade de direitos para ambos os sexos, professora, amante das artes e poetisa, cujos poemas de singular apelo sensuais eram classificados como devassos até por setores das classes intelectuais menos comprometidos com as normas morais vigentes.

Em 1928, Anayde Beiriz, com vinte e três anos de idade, iniciou seu romance com o advogado e ativista político João Dantas, ferrenho adversário de João Pessoa, então presidente da Província da Paraíba. Eles mantinham uma relação amorosa bastante liberal para a época. Um casal apaixonado que trocava confidências amorosas através de cartas e poemas eróticos, os quais eram guardados no escritório de João Dantas, como partes integrantes de suas vidas privadas. Em 1929, João Pessoa, na qualidade de vice, e Getulio Vargas, como presidente, lançaram chapa de oposição à Presidência da Republica. Na Paraíba, o cel. José Pereira, de Princesa, a quem João Dantas se ligava politicamente, era o principal adversário político do Presidente da Paraíba. Em 1930, a campanha pela sucessão do Presidente da República Washington Luís foi bastante acirrada, mas, realizado o pleito, a chapa situacionista, encabeçada por Júlio Prestes, foi declarada vitoriosa. Nada mais restava a chapa de oposição, formada por Getúlio Vargas e João Pessoa, senão lamentar a derrota,. Porém, alguns fatos ocorridos na Paraíba iriam mudar o rumo da história do Brasil. De retorno à Capital, vindo da Serra de Teixeira, onde visitara seu ao pai enfermo, João Dantas constatou que seu escritório fora invadido e saqueado pela polícia, a mando de João Pessoa, e todo o seu conteúdo espalhado e afixado em lugares públicos, expostos à curiosidade alheia. Apercebeu-se, João Dantas, que as cartas, poemas eróticos e fotografias sensuais, e até mesmo o diploma de Anayde, eram motivos de galhofas de toda a sociedade. João Dantas se sentiu profundamente humilhado ao ver o seu sagrado direito de privacidade ser violado.

O resto da história todos sabem qual foi. Sabiamente, diz um velho provérbio: "Quem governa faz a História, pois a História pertence aos vencedores". Por muito tempo a história oficial tentou esconder os verdadeiros motivos que culminaram na tragédia da Confeitaria Glória. Getulio Vargas chegou ao poder graças á morte de João Pessoa, e como gratidão o transformou em mito. Não se discute a ética nem o caráter dos mitos, por isso João Pessoa tem resistido incólume ao julgamento da história. Para que escrever que naquela ocasião João Pessoa foi ao Recife se encontrar com uma amante, se fica mais sublime dizer que ele foi tratar de assuntos políticos, como fazem os grandes estadistas? Que importa saber se na Confeitaria Glória João Pessoa contava triunfantemente aos correligionários a humilhante peça que armara contra seu adversário político?

Concomitantemente, a história oficial deixou transparecer que João Dantas era um homem rude, de pensamento retrógrado e posições anárquicas, que alimentava um amor libertino por uma insignificante e devassa professorinha de uma colônia de pescadores. Por outro lado, João Pessoa, foi elevado à categoria de herói assassinado, João Dantas e Anayde Beiriz foram relegados aos grupos dos fracos e arrependidos, que renunciam ao sagrado direito de viver através do louco caminho do suicídio. Desta forma, hoje o nome de João Dantas continua prescrito na história política da Paraíba, enquanto que João Pessoa dá nome à cidade em que nasceu. Anayde Beiriz teve o corpo enterrado como indigente, na capital pernambucana.

Conseqüências da Morte de João Pessoa


João Dantas: Suicídio ou Assassinato!?

"Fique certo que nenhum Dantas se amedrontará nem se humilhará diante vosso capricho... Sou forçado lembrar, sem estardalhaço tão do agrado do vosso temperamento teatral, que felizmente tendes filhos, e juntamente com eles responderais pelo que sofrer a minha família."

(de um telegrama de João Dantas a João Pessoa)

"A procura do seu difamador percorria as ruas do bairro comercial. Depois de varejar todos os recanto veio encontrá-lo, sentado, em uma roda de amigos, na "Confeitaria Glória". Dominando a exaltação, natural do momento, controlou seus nervos que os sabia dominar. Enfrentando seu rancoroso inimigo, teve a altivez de lhe dizer quem era o autor do fim dos seus dias - "João Pessoa, sou Dr. joão Duarte Dantas, a quem tanto injuriaste e ofendeste" - e isto lhe dizendo, por três vezes lhe descarregou a arma, para ele amiga, porque lhe pareceu que, naqueles disparos que o fizeram tombar, caia também o peso da inclemencia que tanto o oprimia, e assim tinha, novamente, limpa a sua honra que, ignobilmente, fora tantas vezes ultrajada."

(do livro "Porque João Dantas assassinou João Pessoa")

"... Eu agi porque me afrontaram ao extremo, e o fiz sem ouvir a ninguém, por minha mão, por minha responsabilidade exclusiva..."

(de uma carta de João Dantas escrita da prisão, em Recife)

- "Mas Dr. Dantas, o Sr. cometeu o maior crime do mundo!"
- Sim, Dr., depois que recebi a maior afronta do universo"

(do livro "Porque João Dantas assassinou João Pessoa")

"E, as 15h00 e mais alguns minutos eram barbaramente sangrados, miseravelmente mortos, na penitenciária do Recife, o engenheiro Augusto Moreira Caldas e o Dr. João Duarte Dantas. Trucidavam, os canibais, duas indefesas criaturas!"

(do livro "Porque João Dantas assassinou João Pessoa")

Tirem suas próprias conclusões!

Imagens retiradas do Livro 'Por que João Dantas Assassinou João Pessoa' e colhidas no site http://www.princesapb.com/.


Este texto também foi publicado em www.efecade.com.br, que o autor está construindo. Visite-o e deixe a sua opinião!

Na versão dos Dantas

A história que a família conta é que no final da década de 20, João Dantas era inimigo político e pessoal de João Pessoa, governador da paraíba e sobrinho do então presidente Eptácio Pessoa. Foi então que José Américo, Hoje concorre a paraibano do século, ocupava um cargo importante ligado a segurança no governo e mandou invardir o apartamento de João Dantas, roubou cartas confidênciais ..., e publicou anônimanente. João Dantas puto da vida por ter sido difamado, pensou que fora João Pessoa e o jurou de morte, avisou que iria morar em recife e no dia que ele fosse a pernambuco estaria morto. Não deu outra, um ano depois João pessoa estava em Recife numa padaria, João Dantas o viu, foi pegar sua arma em casa e o matou como havia prometido. Já no presídio foi assassinado em circunstâncias nunca esclarecidas.

Depois deu-se inicio a perseguição aos dantas na paraíba junto com a revolução de trinta. Meu avô, José Lindolpho Dantas Corrêia de Goes, que morava em Teixeira, no interior da paraíba, contava histórias de emboscadas com a polícia, ainda cheguei a conhecer casas de fazenda com aberturas para os rifles e tal. Alguns amigos dele ficaram escondidos por meses na mata, etc. Por fim os paraíbanos deram o nome da capital de João Pessoa (chamava-se paraíba). Tem outras histórias muito interessantes sobre os dantas.

http://boards.ancestry.com/surnames.dantas

JOÃO DANTAS NÃO É HERÓI

A pergunta que faço aqui agora é a seguinte: se João Dantas não tivesse matado João Pessoa, seria lembrado hoje em dia como alguém de relativa importância? Seguramente não. Era um advogado como outro qualquer, com escritório funcionando no centro da Capital, tendo clientes razoáveis e um grupo de amigos comuns, que não projetam nem desqualificam. Tudo dentro da normalidade. Sim, gostava de um rabo de saia, coisa que todo homem gosta. Sendo solteiro, namorava a torto e a direito, até que encontrou Anayde Beiriz, por quem se enrabichou, atraído pelos seus dotes de poetisa e pelo seu comportamento incomum num tempo em que mulher não mostrava a canela ao distinto público e se chumbregava com algum homem, o fazia na calada da noite, no escondido do quarto.Dizem que era valente, mas lendo a sua história vê-se que era mais rancoroso do que destemido. E odiava a João Pessoa, o presidente do Estado, por conta de interesses contrariados dele e da família. Se fosse só por Anayde e pelas cartas que se transformaram, ao longo dos anos, em símbolos de um amor trágico tipo Romeu e Julieta, garanto que João Pessoa teria morrido de velhice. João Dantas tinha raiva de João Pessoa por outros motivos. Inclusive empresariais. O presidente da Paraíba atrapalhou negócios da família Dantas em Teixeira e isso não caiu no agrado do advogado, que começou a escrever cartas violentas, desqualificando o presidente, chamando-o de doido, de João Porteira. Tudo desaforo, dito nas folhas dos jornais, a distância mantida, um ouvindo da Paraíba o que o outro mandava dizer de Pernambuco.

Pelo que se lê nos livros da história, João Pessoa não ligava muito para João Dantas. Não dava-lhe cabimento. O presidente se preocupava, sim, com Zé Pereira, que lhe tirava o sono direto de Princesa, armando um exército para desafiá-lo e aos seus soldados. Dantas não. Era apenas um homem comum que dizia desaforos nos jornais dos Pessoa de Queiroz e que era repreendido, no mesmo tom, pelos que escreviam em A União. Ou seja, João Pessoa lia os ataques, mas deixava aos seus subordinados a missão de respondê-los.


A invasão ao escritório de João Dantas foi iniciativa dos babões do presidente. João Pessoa soube dela depois de consumada. E as cartas, as famosas cartas que foram utilizadas como justificativa para a morte de João Pessoa, eram aquelas trocadas entre João e o pai, nas quais se falava de aproveitamento de verbas federais para construção de açudes nas propriedades da família Dantas. Ou seja, dinheiro enviado ao Estado com a missão de ajudar o povo e que seria desviado para as terras dos Dantas, em Teixeira. As cartas que teriam Anayde como protagonista eram café pequeno perto das que falavam das mutretas dos Dantas.


Quanto ao incidente do Recife, que transformaria Dantas em Herói, em homem de incontestável coragem, faço ressalvas. João Dantas matou João Pessoa a traição. Chegou perto dele e, quando o homem levantou a cabeça para vê-lo, disse: "João Pessoa, sou João Dantas" e mandou bala. Deu-lhe três tiros na caixa dos peitos, sem permitir a menor reação. João Pessoa morreu sorrindo, sem entender nada. Desse jeito, qualquer um pode ser herói.

Fonte:
tiaolucena@jpa.neoline.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário