terça-feira, 15 de março de 2011

O dia em que Jarbas deu uma de repórter



O ex-governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, no passado já deu uma de repórter. Foi em 1973, quando, disfarçado de turista, ele entrou numa fazenda em Brejo da Madre Deus, a 190 km do Recife, para cumprir uma missão: documentar a suspeita de que máquinas e trabalhadores pagos pelo governo estariam sendo utilizados para realizar obras numa propriedade particular do então governador do Estado, Eraldo Gueiros Leite. E o episódio teve grande repercussão.

Na época, Jarbas Vasconcelos era deputado pelo MDB, líder da Oposição na Assembléia Legislativa, e contratou um fotógrafo que também se fez passar por turista. Na propriedade de Eraldo Gueiros, a Fazenda Salobro, de 90 hectares, os dois fotografaram equipamentos e operários de duas empresas estatais (o Departamento Estadual de Poços e Açudagem e a Companhia de Eletrificação de Pernambuco) executando obras de eletrificação e perfuração de poços.

As fotos ficaram guardadas por duas semanas até que, no dia 27 de abril, foram divulgadas. Primeiro, Jarbas exibiu as fotografias no plenário da Assembléia Legislativa do Estado, durante uma tumultuada sessão, confirmando, assim, "tratar-se evidentemente de um ato imoral". No dia seguinte, as fotos acabariam publicadas pelos jornais pernambucanos e de outros estados brasileiros, entre os quais o Jornal da Tarde, vespertino paulista.

Em meio à sessão durante a qual as fotos foram exibidas, o líder do Governo, Antônio Correia de Oliveira, saiu em defesa de Eraldo Gueiros, dizendo que os trabalhos na fazenda do governador foram pagos das seguintes formas: a perfuração dos poços teria sido quitada ao Departamento de Poços e Açudagem com o cheque de nº 069322, do Bandepe; e a eletrificação rural fora paga à Celpe, com 170 notas promissoras de CR$ 76,00 cada. E, assim, tudo parecia resolvido.

Mas, a explicação de Antônio Correia não convenceu muita gente. O deputado Antônio Airton Benjamim, governista dissidente, foi um exemplo. Exibindo um exemplar do Diário Oficial do Estado daquela semana, ele leu em plenário a notícia sobre a assinatura de um contrato no valor de 7,3 milhões, entre o Governo do Estado (via Celpe) e várias cooperativas agrícolas, para eletrificação de propriedades rurais. E a legenda de uma foto da notícia dizia o seguinte:

"O chefe do executivo dirige-se aos presidentes de cooperativas do interior, afirmando que também participará, como simples cidadão, dos benefícios da eletrificação rural."

A partir daquele momento, a sessão na Assembléia Legislativa ganhou ares de guerra. A Oposição queria pedir o impeachment de Eraldo Gueiros, com base no artigo 173 da Constituição Federal, segundo o qual "não é permitido a um governador de Estado fazer contratos com companhias do governo ou naquelas em que o governo é o maior acionista". Mas, para pedir o impeachment, a Oposição teria que reunir os votos de 2/3 dos deputados, coisa que nem de longe ela conseguiria.

E, assim, com aquela tensa sessão na Assembléia Legislativa (que acabaria pondo mais fogo na velha briga Governo/Opisição), estaria encerrado o episódio das reveladoras fotografias realizadas por Jarbas Vasconcelos.

Mas, um detalhe de toda essa história ainda hoje provoca indagação:

Se, durante a sessão em que Jarbas apresentou as fotos, Pedro Correia já tinha em mãos os argumentos para defender o Governo, isso significa que o Governo sabia antecipadamente que as fotos seriam divulgadas. Por que, então, o Governo nada fez para tentar impedir que a divulgação se consumasse, já que esse tipo de intervenção era "normal" durante a ditadura militar? Teria sido descuido?

Fonte:http://www.pe-az.com.br

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