sábado, 5 de março de 2011

Parabólicas deixam interior isolado da capital


Na busca por melhor imagem e mais opções de canais de televisão, a população das cidades do interior pernambucano tem aderido em massa ao uso de antenas parabólicas. Essa prática é boa, na medida em que proporciona conforto e deixa o telespectador ligado no mundo. Mas, ao mesmo tempo, é ruim, porque ela deixa os pernambucanos completamente alheios ao que acontece no seu próprio Estado.

Esse isolamento ocorre porque todos os canais de TV sintonizados via parabólica são de outras regiões do Brasil, sobretudo de São Paulo e Rio de Janeiro. Desta forma, a "programação local" (desde telejornais, flash, jogos de futebol etc.) transmitida por essas emissoras diz respeito, claro, aos seus respectivos estados. Notícias de Pernambuco, só mesmo quando o fato é destaque nacional.

Em períodos eleitorais, a situação é mais absurda ainda: o sertanejo reúne a família diante da TV, durante o horário da propaganda eleitoral gratuita, para ficar escutando os discursos de candidatos cariocas, paulistas, catarinenses ou até mesmo paraibanos - nunca de um pernambucano. Daí, muita gente não saber, por exemplo, quem é o governador de Pernambuco ou o prefeito do Recife.

Josefa Cândido da Silva, agricultora de 45 anos, é um caso típico desse telespectador parabólico. Moradora de uma casa de taipa no Sítio Quinto Barracão, no município de Sertânia, ela viveu sem acesso à TV até 2001, ano em que reuniu as economias, comprou uma antena por R$ 350,00 e passou a captar imagem de primeira qualidade. “Antes da parabólica, a televisão aqui só pegava uns riscos”, informa ela.

Dona Josefa mora com um filho de 18 anos e o companheiro, também agricultor, e diz que foi um sacrifício comprar a antena, porque o dinheiro que ganham é curto: “mas se a gente não fizesse isso, a gente não via nada.” Ela quer dizer: a família não assistiria a telenovelas e outros programas nacionais. Porque informações de Pernambuco, os três só têm através do rádio. “Coisas daqui, só de rádio mesmo”.

De acordo com técnicos do Departamento de Telecomunicações de Pernambuco (Detelpe), esse isolamento televisivo do interior do Estado não deveria acontecer. Isto porque, além da TV Pernambuco (que transmite uma TV Educativa para 40 localidades), o Detelpe opera um sistema de retransmissão com 70 estações repetidoras que, em tese,leva pelo menos um canal (no caso a Globo) para todo o território pernambucano.

O problema é que esse sistema não vem cumprindo a sua função com qualidade, pelos seguintes motivos: Está defasado do ponto de vista tecnológico, pois foi montado há 25 anos quando ainda não tínhamos sistema de transmissão de TV via satélite mas, sim, repetição via terrestre. E mais: algumas estações repetidoras são constantemente invadidas por ladrões que roubam dali cabos e equipamentos.

Em Lagoa Grande, por exemplo, além de cabos e outros materiais, roubaram inclusive o transformador de energia elétrica, deixando a estação totalmente às escuras. As estações dos municípios de Jatobá e Inajá também já foram assaltadas. A todas essas deficiências, acrescente-se o fato de que a população não se satisfaz com apenas um canal de TV. Daí, a proliferação de antenas parabólicas e o conseqüente isolamento das nossas populações interioranas.

2 comentários:

  1. Achei mt importante a preocupação de Cobra Cordelista sobre a falta de informação da região dos pernambucanos que moram no sertão. Só obtendo maiores informações de outras regiões, por meio da antena parabólica. Pois é necessário que os mesmos participem da cultura e da política da sua região, para que, de fato, possam exercer sua cidadania. Parabéns pela matéria.
    Adjanete Lopes

    ResponderExcluir
  2. Cobra, aqui no Ceará é a mesma coisa. No interior tem mais torcedor do Flamengo, São Paulo, Palmeiras e Corinthians que Ceará, Fortaleza ou Ferroviário que são times de grande expressão em Fortaleza. As populações interioranas sabem um monte de coisa de Rio e São Paulo e não sabem nada do que acontece no seu próprio Estado.

    ResponderExcluir